domingo, 10 de agosto de 2008

Partículas Elementares (Elementarteilchen, Alemanha, 2006)


Bem menos do que um drama existencial, bem mais do que uma comédia romântica


Partículas Elementares não é um filme de virtuosismos. Sem ousadia e com trilha sonora e fotografia simples e regulares, Oskar Roehler faz um drama linear e bem diferente das tendências do cinema alemão moderno, este que, influenciado pelo próprio cinema novo alemão, é famoso por temas políticos e experimentações de linguagem.
O filme homônimo da obra de Michel Houllebecq trata de forma humanística da história dos meio-irmãos Bruno (Moritz Bleibtreu) e Michael (Christian Ulmen) que, no auge de seus 30 anos, vivem conflitos pessoais e independentes. Eles encontram-se regularmente para falar de suas vidas, mas sem jamais envolverem-se nos problemas um do outro. O fato dos dramas dos irmãos não se misturarem durante a trama dá a idéia de que não só os personagens principais, mas de que todo indivíduo constitui uma partícula elementar. Quando Michael reencontra seu amor de infância Annabelle (Franka Potente) e Bruno conhece a sensual Christiane (Martina Gedeck), o sexo aparece como uma força capaz de unir essas partículas e, apesar das diametrais diferenças entre os irmãos, esta mesma força muda o curso de suas vidas. É nesse contexto que, sem pedantismo, misturam-se conceitos e aforismos acerca de temas relacionados à vida e à ciência.
Apesar da linearidade adotada pelo diretor, há certos exageros durante o filme, momentos em que o diretor busca criar uma dramaticidade plástica que não caberia ao romance de Houllebecq. Um deles acontece na seqüência em que Christiane aguarda um telefonema decisivo de Bruno. O abuso de planos próximos misturado a uma trilha sonora de suspense torna a seqüência excessivamente dramática e até desgastante ao espectador. Isso também acontece em uma cena em que Michael, ao caminhar pensativo, decide telefonar para Annabelle como se sentisse que algo esta errado com ela. O tom metafísico da relação dos dois beira o conto de fadas e, junto com os outros exageros melodramáticos de Roehler, comprometem a adaptação de um romance bem mais racional do que seu filme.
Mas Partículas Elementares possui vários méritos pontuais: Roehler acerta na seqüência em que Bruno descobre a gravidade da doença de Christiane. A trilha, os enquadramentos e o próprio desempenho dos atores – com destaque para o excelente Moritz Bleibtreu, ganhador do Urso de Prata de melhor ator em 2006 – se relacionam harmonicamente, compondo uma cena emocionante e de dramaticidade suave, coerente com o ritmo do filme. É de se elogiar a precisão de Roehler na escolha de seu elenco de atores e na maneira de dirigi-los.
Apesar dos deslizes óbvios, Partículas Elementares é um bom exemplo de um cinema alemão de linguagem acessível até ao mais aficionado consumidor de blockbusters, mas que pode, ao mesmo tempo, agradar aos cinéfilos que buscam uma tarde com pouca carga e informação cinematográfica. Oskar Roehler buscou compor um drama existencial, no entanto a crítica tem classificado seu filme como uma mera comédia romântica. Partículas Elementares é bem menos do que seu diretor imaginou, mas com certeza é bem mais do que a simples comédia romântica pintada pela crítica.

Um comentário:

Rodrigo Huagha disse...

Uma simples comédia romântica é um dos gêneros mais difíceis de se criar, o romantismo pode ou quase sempre descanba para o drama(lhão).