
Técnica e linguagem aplicadas para entreter e emocionar
Poucos são os documentários que entram em circuito comercial no Brasil, principalmente pelo pouco interesse que despertam no público em geral. No entanto, O Mistério do Samba – primeiro longa-metragem de Carolina Jabor e o segundo de Lula Buarque – se mostra um filme instigante do começo ao fim, seja por sua qualidade técnica, seja pela sensibilidade com que os diretores buscaram mostrar a poética misturada às canções, às histórias e aos rostos daqueles que compõem a Velha Guarda Portelense.
O projeto contou com o apoio de Marisa Monte, desde o roteiro até a condução de muitas entrevistas durante o filme. Na intenção de recolher canções raras desconhecidas, a cantora conversa com vários integrantes e protagoniza – às vezes apenas figura – belas cenas ao lado dos senhores e senhoras que compõem a o grupo veterano da Portela. A simplicidade e os sentimentos permeiam as conversas e as entrevistas de sobremaneira que o espectador logo se vê envolvido com tudo aquilo que vê, e emociona-se. Em uma seqüência marcante, seu Casemiro, leva na simplicidade de sua cuíca uma canção sobre um amor passado. Ao terminar, seus olhos fixam-se perdidos em algum lugar e logo são interrogados pelo diretor: “seu Casemiro, esse samba tem uma letra triste, né?”; ele responde dizendo “é... Se num tiver letra triste o samba não fica bom”.
O filme abusa dos planos próximos, como se as lentes buscassem no olhar e nas rugas dos personagens marcas que denunciem os tantos anos dedicados àquela música e àquela comunidade, uma verdadeira paixão. Com um grande interesse em explicar a origem do lirismo e poesia presente nas letras dos sambas, o documentário mergulha fundo nas histórias e sentimentos de uma gente simples, porém sábia, que apesar da profunda alegria que sentem em viver, busca nas angústias e tristezas intrínsecas, inspiração para construir as belas canções que inundam todo o filme.
Em meio às histórias de vida, dos casos e acasos daqueles senhores e senhoras, o dueto entre Paulinho da Viola e Marisa Monte é um deleite à parte no filme. A dupla interpreta, na informalidade de uma conversa na frente de casa, raridades praticamente perdidas de compositores de samba da Portela. As passagens, que aparecem no decorrer do filme, são de uma beleza tão singular, que nem os ruídos da captação de som direto foram capazes de ofuscar o brilho do momento.
Toca Seabra dirigiu a fotografia do filme de maneira a atribuir-lhe um ar um tanto informal, mas implacável com os detalhes e os muitos tons de azul. Deu um toque belíssimo, como uma homenagem, às lembranças dos momentos ou dos integrantes já falecidos. As fotos em preto-e-branco ou em sépia são destacadas do plano e sobrepostas a um fundo que remete às cores da Portela. Construindo uma estrutura barroca nas fotografias de família dos personagens, o diretor consegue envolver o espectador, com sutileza, nos sentimentos daquela gente.
Foram quase 10 anos de pesquisa e captação de imagens, o que fica claro nos planos que aparecem datados de 1998 a 2007. Em meio a tantas horas de material, não faltou sensibilidade a Natara Ney para condensar em 88 minutos conteúdo e a essência do grupo da Velha Guarda.
Em vários momentos, Carolina e Lula conseguem explorar diversos signos sem assustar com clichês: muitos planos próximos dos pés dos integrantes da Velha Guarda remetem ao lugar comum do ‘samba no pé’, assim como mostram, ao mesmo tempo, a vivacidade daqueles senhores e senhoras simples que construíram ao longo dos anos uma tradição tão forte e tão rica como a da Velha Guarda da Portela. Outro aspecto bastante explorado foi o de que o samba está presente em tudo naquela comunidade. Ele pode vir da palma das mãos calejadas do mecânico, do banco da estação Oswaldo Cruz ou do arranhar dos pentes de uma cabeleireira.
O Mistério do Samba foi um projeto de longa gestão que construiu, além do mérito do próprio produto final, uma homenagem a toda poética dos que fazem a Velha Guarda da Portela. O projeto de Marisa Monte de fazer uma coletânea de sambas adormecidos, felizmente se metamorfoseou em um belíssimo trabalho audiovisual, exemplo de como se pode aplicar boas técnicas e linguagem para entreter e emocionar um grande público desacostumado com documentários.
O projeto contou com o apoio de Marisa Monte, desde o roteiro até a condução de muitas entrevistas durante o filme. Na intenção de recolher canções raras desconhecidas, a cantora conversa com vários integrantes e protagoniza – às vezes apenas figura – belas cenas ao lado dos senhores e senhoras que compõem a o grupo veterano da Portela. A simplicidade e os sentimentos permeiam as conversas e as entrevistas de sobremaneira que o espectador logo se vê envolvido com tudo aquilo que vê, e emociona-se. Em uma seqüência marcante, seu Casemiro, leva na simplicidade de sua cuíca uma canção sobre um amor passado. Ao terminar, seus olhos fixam-se perdidos em algum lugar e logo são interrogados pelo diretor: “seu Casemiro, esse samba tem uma letra triste, né?”; ele responde dizendo “é... Se num tiver letra triste o samba não fica bom”.
O filme abusa dos planos próximos, como se as lentes buscassem no olhar e nas rugas dos personagens marcas que denunciem os tantos anos dedicados àquela música e àquela comunidade, uma verdadeira paixão. Com um grande interesse em explicar a origem do lirismo e poesia presente nas letras dos sambas, o documentário mergulha fundo nas histórias e sentimentos de uma gente simples, porém sábia, que apesar da profunda alegria que sentem em viver, busca nas angústias e tristezas intrínsecas, inspiração para construir as belas canções que inundam todo o filme.
Em meio às histórias de vida, dos casos e acasos daqueles senhores e senhoras, o dueto entre Paulinho da Viola e Marisa Monte é um deleite à parte no filme. A dupla interpreta, na informalidade de uma conversa na frente de casa, raridades praticamente perdidas de compositores de samba da Portela. As passagens, que aparecem no decorrer do filme, são de uma beleza tão singular, que nem os ruídos da captação de som direto foram capazes de ofuscar o brilho do momento.
Toca Seabra dirigiu a fotografia do filme de maneira a atribuir-lhe um ar um tanto informal, mas implacável com os detalhes e os muitos tons de azul. Deu um toque belíssimo, como uma homenagem, às lembranças dos momentos ou dos integrantes já falecidos. As fotos em preto-e-branco ou em sépia são destacadas do plano e sobrepostas a um fundo que remete às cores da Portela. Construindo uma estrutura barroca nas fotografias de família dos personagens, o diretor consegue envolver o espectador, com sutileza, nos sentimentos daquela gente.
Foram quase 10 anos de pesquisa e captação de imagens, o que fica claro nos planos que aparecem datados de 1998 a 2007. Em meio a tantas horas de material, não faltou sensibilidade a Natara Ney para condensar em 88 minutos conteúdo e a essência do grupo da Velha Guarda.
Em vários momentos, Carolina e Lula conseguem explorar diversos signos sem assustar com clichês: muitos planos próximos dos pés dos integrantes da Velha Guarda remetem ao lugar comum do ‘samba no pé’, assim como mostram, ao mesmo tempo, a vivacidade daqueles senhores e senhoras simples que construíram ao longo dos anos uma tradição tão forte e tão rica como a da Velha Guarda da Portela. Outro aspecto bastante explorado foi o de que o samba está presente em tudo naquela comunidade. Ele pode vir da palma das mãos calejadas do mecânico, do banco da estação Oswaldo Cruz ou do arranhar dos pentes de uma cabeleireira.
O Mistério do Samba foi um projeto de longa gestão que construiu, além do mérito do próprio produto final, uma homenagem a toda poética dos que fazem a Velha Guarda da Portela. O projeto de Marisa Monte de fazer uma coletânea de sambas adormecidos, felizmente se metamorfoseou em um belíssimo trabalho audiovisual, exemplo de como se pode aplicar boas técnicas e linguagem para entreter e emocionar um grande público desacostumado com documentários.
Um comentário:
Daí o professor lê o seu texto.
Depois ele lê o meu.
Aí ele pensa: "Gente, alguém ensina essa Ana F., 17 anos, a escrever um texto decente?"
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